A influência psicológica no alcoolismo e o papel do AA
O alcoolismo não é apenas uma questão de consumo excessivo, mas um sintoma de conflitos internos, frustrações e mecanismos de defesa que a mente utiliza para suportar dores emocionais. Muitas vezes, o álcool aparece como um “anestésico psíquico”, trazendo alívio momentâneo da ansiedade, da angústia e de sentimentos de vazio. Porém, a médio e longo prazo, o uso recorrente mina a autoestima, fragiliza os vínculos afetivos e aprisiona o sujeito em um ciclo de dependência física e psicológica.
Nesse cenário, o Alcoólicos Anônimos (AA) cumpre um papel fundamental. Ao oferecer suporte em grupo, ele cria um espaço de acolhimento, identificação e pertencimento — fatores que combatem diretamente o isolamento, a culpa e a sensação de impotência que acompanham o dependente. A troca de experiências possibilita que a pessoa não apenas se sinta compreendida, mas também encontre exemplos vivos de superação, fortalecendo sua própria esperança.
Do ponto de vista psicológico, os principais obstáculos enfrentados pelo indivíduo no processo de recuperação incluem:
1. Negação – a dificuldade de reconhecer a gravidade do problema, sustentada pela ilusão de controle.
2. Vergonha e culpa – sentimentos que impedem a busca por ajuda e alimentam a autossabotagem.
3. Medo da mudança – abandonar o álcool implica abrir mão de um “companheiro constante”, o que pode ser vivido como perda.
4. Pressões sociais e familiares – ambientes pouco compreensivos ou cheios de cobranças podem reforçar recaídas.
5. Fragilidade emocional – traumas, angústias e conflitos não elaborados exigem enfrentamento psicológico, o que torna a abstinência ainda mais desafiadora.
Assim, o tratamento do alcoolismo exige mais do que disciplina: requer uma transformação interior, apoiada pelo trabalho terapêutico, pelo suporte de grupos como o AA e, sobretudo, pelo reconhecimento de que a dependência não é sinal de fraqueza, mas um pedido inconsciente de socorro.
Sandro César Roberto