segunda-feira, 19 de maio de 2025

Romantização da Doença Mental


Romantização da Doença Mental: Quando o Sofrimento Vira Espetáculo e o Brasil Desce a Ladeira

Há algo profundamente alarmante acontecendo diante dos nossos olhos — e pouca gente tem coragem de nomear: estamos normalizando o adoecimento psíquico, transformando dor em moda, delírio em afeto, transtorno em entretenimento.

Na perspectiva psicanalítica, a mente humana opera com defesas, traumas, recalques e simbolizações complexas. Mas o que vemos hoje, principalmente nas redes sociais e nos discursos rasos sobre “autoaceitação”, é uma romantização da doença mental que mascara o sofrimento real e impede o tratamento necessário.

Um exemplo gritante é o fenômeno dos bebês Reborn. Mulheres adultas tratando bonecos como filhos reais, levando-os a pediatras, exigindo respeito a uma fantasia dissociada da realidade. Isso não é "fofo", "emocionante" ou “libertador”. Isso é um sintoma! Um sinal claro de histeria moderna, de regressão emocional e de um eu que não suporta a ausência, o luto, o trauma — e então constrói um simulacro para tentar sobreviver.

O problema? O Brasil não apenas tolera, mas celebra esse delírio. A mídia aplaude, o público compartilha, e os profissionais que tentam alertar são tachados de insensíveis. Estamos andando em direção oposta ao amadurecimento emocional e psicológico que tanto precisamos como sociedade.

A psicanálise não busca o julgamento, mas a interpretação. E o que se interpreta aqui é um deslocamento perigoso: estamos saindo da escuta clínica e entrando no palco da validação social de comportamentos patológicos. O que antes era tratado em consultório, hoje ganha likes. E o sofrimento, em vez de ser cuidado, é aplaudido como performance emocional.

É preciso dizer com todas as letras: a romantização da loucura não é liberdade. É abandono.
Abandono clínico, abandono social, abandono do sujeito que grita por ajuda e recebe curtidas no lugar de acolhimento.

Se quisermos uma sociedade emocionalmente saudável, precisamos parar de mascarar a dor com maquiagem afetiva. É hora de resgatar a ética do cuidado. E isso começa por olhar a verdade de frente, por mais incômoda que ela seja.

Nem toda fantasia é saudável. Nem todo afeto é real. E nem toda aceitação é cura.
A psicanálise segue de pé — enquanto muitos já se jogaram ladeira abaixo.

Sandro César Roberto

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Sua opinião é muito importante para nós!
Deixe seu comentário, dúvida ou sugestão e participe dessa jornada pelo autoconhecimento. Estamos aqui para ouvir você e tornar o Caminhos do Inconsciente um espaço ainda mais enriquecedor!"

Feminismo x felicidade

Feminismo x Felicidade: “Liberdade ou cobrança?” O feminismo trouxe conquistas históricas, mas também gerou novos impasses. Muitas mulheres ...