O Adolescente e a Repulsa pela Própria Feminilidade
Na contemporaneidade, observa-se um fenômeno crescente: adolescentes do sexo masculino manifestando traços femininos — na fala, na postura, na sensibilidade e até na forma de expressão emocional — e, paradoxalmente, demonstrando repulsa, vergonha ou até hostilidade diante dessas mesmas características.
Esse conflito interno nasce da colisão entre dois mundos psíquicos. De um lado, a sociedade moderna, que flexibiliza papéis de gênero e valoriza a liberdade de expressão. Do outro, um inconsciente coletivo ainda preso a arquétipos rígidos de masculinidade — o guerreiro, o dominador, o invulnerável.
Quando o jovem, em processo de formação de identidade, expressa aspectos da anima (a parte feminina da psique descrita por Jung), ele toca zonas de vulnerabilidade e afeto que a cultura masculina costuma reprimir. O desconforto, então, não vem apenas da aparência ou do gesto, mas da sensação de “traição” ao ideal masculino internalizado desde a infância.
A repulsa é, na verdade, um mecanismo de defesa — uma forma inconsciente de tentar recalcar aquilo que desperta medo: a perda da referência identitária e o julgamento social. Ao rejeitar o feminino em si, o adolescente busca reafirmar a masculinidade idealizada, mas acaba se distanciando da própria autenticidade emocional.
O trabalho terapêutico deve focar na integração: compreender que os polos masculino e feminino coexistem em todos os seres humanos, e que o equilíbrio entre força e sensibilidade é o verdadeiro sinal de maturidade psíquica. Somente quando o adolescente aceita suas nuances, ele deixa de lutar contra si mesmo e começa, enfim, a se tornar inteiro.
Sandro César Roberto
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