quarta-feira, 16 de abril de 2025

Metas e Conquistas e Ansiedade



Desafios do Cotidiano e a Ansiedade por "Dar Certo" à Luz da Psicanálise

Vivemos em uma sociedade que valoriza constantemente o desempenho, a produtividade e a ideia de “dar certo”. Essa exigência constante nos coloca diante de desafios cotidianos que, muitas vezes, não estão apenas fora de nós, mas também dentro de nós: no desejo de ser aceito, de ter sucesso, de cumprir expectativas alheias ou de atender a um ideal de perfeição.

À luz da psicanálise, especialmente a partir das ideias de Freud e Lacan, podemos compreender que essa ansiedade tem raízes inconscientes. O sujeito moderno vive em busca de algo que o complete — aquilo que Lacan chamou de objeto a — e projeta essa completude em conquistas externas: um bom emprego, uma relação ideal, estabilidade financeira, reconhecimento social. No entanto, essa busca é incessante e, muitas vezes, frustrante.

A ansiedade, nesse contexto, pode ser compreendida como o sintoma de um desejo que não encontra lugar para se realizar plenamente. A sensação de que "as coisas precisam dar certo" revela uma luta interna entre o eu idealizado e o eu real, entre o desejo do sujeito e a demanda do Outro (a sociedade, a família, o parceiro, o trabalho).

A psicanálise propõe, então, um deslocamento: em vez de tentar eliminar a ansiedade, propõe-se escutá-la. O que ela está tentando dizer? De que desejo ela é sintoma? Que história ela carrega?

Ao colocar em palavras esse sofrimento, o sujeito pode se apropriar de sua história, de seus limites e desejos reais, abrindo mão da ilusão de controle total sobre a vida. Afinal, como dizia Winnicott, "ser é mais importante do que fazer".


sexta-feira, 11 de abril de 2025

Vigilância Eterna

O Preço da Inocência e o Silêncio que Mata

Vivemos em uma era onde a realidade se impõe com brutalidade. O tráfico infantil, seja para o trabalho escravo ou para fins de exploração sexual, não é ficção nem exagero — é um fato doloroso que atravessa portas, muros e até lares. Na escuridão desse mercado sombrio, uma virgindade infantil tem preço. Isso choca, mas precisa ser dito. O silêncio protege o predador. A fala, por mais desconfortável que seja, pode salvar vidas.

Na luz da psicanálise, compreendemos que o sujeito se constitui no olhar do outro. Uma criança que não é ouvida, não é vista — e é exatamente esse apagamento que os agressores procuram. Por isso, mães, pais, responsáveis: o diálogo com os filhos não é apenas um gesto de amor, é um escudo de proteção. Saber com quem falam, o que veem, quem entra na sua casa... não é controle excessivo, é cuidado, é instinto de sobrevivência.

A formação psíquica da criança está em curso, e nesse processo, a confiança dos pais é a base para que ela desenvolva um senso de valor próprio, de limites, de identidade. Quando a criança não tem com quem dividir suas dúvidas e medos, ela vira presa fácil — seja na internet, nas escolas, ou dentro do próprio lar, por quem deveria protegê-la.

O predador não veste sempre preto, não carrega sempre uma arma. Às vezes ele entra sorrindo, com boas intenções, elogiando, seduzindo — ele conhece os vazios emocionais. Por isso, atenção redobrada a quem se convida para dentro de casa. É preciso romper o tabu da conversa sobre sexualidade, corpo, consentimento e perigos, desde cedo, de forma adequada, mas firme.

A psicanálise nos mostra que o que não é simbolizado, retorna como sintoma — e muitas vezes, como trauma. Traumas que marcam para sempre a psique de uma criança, moldando relações futuras, autoestima e saúde emocional.

Esteja presente. Ouça com o coração e com o olhar atento. Porque a infância não se negocia. A inocência não tem preço. E nossos filhos, nossos pequenos, precisam saber que há um lugar seguro onde podem falar — e serem realmente ouvidos.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Juventude velhice

"O Tempo Que Se Foi"

A juventude passou como um sopro. Tão intensa, tão cheia de vida, de sonhos, de paixões arrebatadoras, de risos fáceis e noites sem hora pra acabar. Vivemos aventuras que pareciam infinitas, acreditamos que éramos invencíveis. Amamos com o peito aberto, nos decepcionamos, caímos, lutamos, vencemos, perdemos. Tudo isso num piscar de olhos.

Hoje, ao olhar para trás, parece que tudo aconteceu ontem. Mas o tempo foi veloz, implacável. Os rostos mudaram, as responsabilidades chegaram, o espelho já não esconde os sinais dos dias vividos. Muitos de nós estamos chegando à terceira idade... outros, infelizmente, permaneceram jovens apenas na lembrança, pois partiram cedo demais.

E agora, assistimos nossos filhos trilharem caminhos tão parecidos com os nossos. Repetem os mesmos erros, vibram com as mesmas descobertas. E nós, que um dia fomos os rebeldes e ousados, hoje somos os “velhos atrasados”, como um dia achamos que eram nossos pais. A roda gira, como sempre girou.

Mas, apesar de tudo, apesar da saudade, das dores e dos ciclos que se encerram, há algo que permanece: a gratidão. Gratidão a Deus por cada experiência vivida, por cada pessoa que cruzou nosso caminho, por cada ensinamento – mesmo os mais difíceis.

A vida é isso: única, subjetiva, cheia de curvas inesperadas, e ainda assim, perfeita do jeito que é. Cada um com sua história, sua cruz, sua benção. E que bom que foi assim. Porque mesmo com tudo, vivemos. Intensamente.

Sandro César Roberto 
Psicólogo 

sábado, 5 de abril de 2025



 O Poder que Transforma: Quando a Chefia se Torna Ditadura


A ascensão a cargos de liderança pode revelar aspectos inesperados da personalidade de um indivíduo. Muitas vezes, profissionais competentes e cordiais, ao serem promovidos a chefes, gerentes ou supervisores, apresentam uma mudança drástica de comportamento, tornando-se autoritários, intransigentes e, em casos extremos, verdadeiros ditadores organizacionais. Essa transformação pode ser analisada sob diversas lentes da Psicologia, especialmente no que se refere ao impacto do poder sobre o comportamento humano.

A Psicologia do Poder

O poder tem um efeito profundo sobre a psique. Estudos na Psicologia Social demonstram que, ao assumir posições de autoridade, algumas pessoas desenvolvem uma sensação de superioridade, passando a ver subordinados como meros instrumentos para atingir objetivos organizacionais. O fenômeno conhecido como "Síndrome do Pequeno Ditador" ocorre quando o indivíduo, ao conquistar um cargo de chefia, internaliza um modelo autoritário, muitas vezes inspirado em superiores anteriores, e passa a reproduzi-lo de maneira exacerbada.

A Teoria do Contágio do Poder, proposta por pesquisadores da Psicologia Organizacional, sugere que indivíduos que antes eram cooperativos podem mudar drasticamente ao perceberem que suas decisões não são mais questionadas. Esse efeito é intensificado em ambientes onde a cultura empresarial valoriza o controle rígido e a hierarquia inflexível

Fatores que Contribuem para o Comportamento Autoritário

1. Insegurança e Necessidade de Afirmação
Muitos novos líderes sentem a necessidade de se impor para ganhar respeito. O medo de parecerem fracos ou inexperientes pode levar à adoção de uma postura agressiva e controladora.

2. Identificação com o Opressor
A Teoria da Identificação com o Agressor, proposta por Freud, explica como pessoas que sofreram abusos de autoridade no passado tendem a reproduzi-los quando assumem posições de liderança. Assim, um funcionário que teve um chefe autoritário pode internalizar essa dinâmica e reproduzi-la ao assumir um cargo superior.

3. Falta de Inteligência Emocional
Liderar exige habilidades emocionais, como empatia, escuta ativa e autocontrole. Quando esses elementos estão ausentes, o líder tende a recorrer ao autoritarismo como forma de compensação para sua incapacidade de gerir pessoas de maneira equilibrada.

4. Cultura Organizacional Tóxica
Empresas que premiam resultados acima do bem-estar dos funcionários estimulam líderes a adotarem posturas despóticas, ignorando a humanização das relações no ambiente de trabalho.

Sandro César Roberto
Psicologo /Psicanalista 



sexta-feira, 4 de abril de 2025


 


A Escolha do Amor: Relacionamentos Abertos e a Redefinição da Lealdade

O conceito de relacionamento aberto tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões sobre amor e convivência a dois. Para alguns casais, abrir a relação para outras experiências afetivas e sexuais representa uma forma de liberdade e autenticidade, rompendo com o modelo tradicional da monogamia. Mas quais são os impactos psicológicos dessa escolha? Como a lealdade e a intimidade são ressignificadas nesse contexto?

O Amor Além da Exclusividade

Na psicologia, o amor pode ser entendido como um fenômeno complexo que envolve componentes emocionais, cognitivos e comportamentais. Tradicionalmente, a exclusividade tem sido vista como um pilar das relações amorosas, mas essa visão está sendo desafiada por modelos não monogâmicos, como o poliamor e o relacionamento aberto. Neles, o compromisso não está necessariamente na posse ou na fidelidade sexual, mas na transparência, no respeito e no consenso entre os parceiros.

A Lealdade Sob um Novo Olhar

Enquanto a monogamia associa lealdade à exclusividade, nos relacionamentos abertos a lealdade assume um novo significado: não se trata de não estar com outras pessoas, mas de manter um pacto baseado na honestidade e na comunicação. Isso exige maturidade emocional e um alto nível de autoconhecimento para lidar com inseguranças, ciúmes e os desafios que surgem ao dividir a vida – e os afetos – com mais de um parceiro.

Impactos Psicológicos e Desafios

Embora algumas pessoas relatem maior liberdade e satisfação nos relacionamentos abertos, essa dinâmica pode gerar conflitos internos e emocionais. Questões como autoestima, medo da substituição e insegurança podem surgir, exigindo um trabalho psicológico profundo para fortalecer a autoconfiança e a segurança no relacionamento.

Outro ponto crucial é a necessidade de uma comunicação clara. A ausência de regras bem definidas pode gerar frustrações e expectativas desalinhadas, levando a um sofrimento emocional significativo. Para muitos casais, a orientação de um psicólogo pode ser fundamental nesse processo, ajudando a compreender se esse modelo realmente atende às suas necessidades emocionais.
Sandro César Roberto
Psicologo/psicanalista

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quinta-feira, 3 de abril de 2025


 

Famílias que Ferem: O Peso da Herança Invisível

Nem toda família é sinônimo de acolhimento. Para muitos, o lar, que deveria ser um refúgio, torna-se um campo de batalha silencioso. Opressão, manipulação, agressões físicas e emocionais moldam identidades, destroem sonhos e sabotam carreiras antes mesmo de começarem.

A influência familiar é como um fio invisível que pode guiar ou aprisionar. Um homem que cresce ouvindo que nunca será capaz, uma mulher sufocada pela culpa e pelo medo de errar—essas marcas não se apagam facilmente. Elas se infiltram nas relações, no trabalho, na autoestima, criando padrões destrutivos que se repetem por gerações.

Mas há uma saída. O apoio psicológico não apenas resgata, mas reconstrói. Ele ensina que não somos reféns da história que nos contaram, que é possível romper ciclos, reescrever narrativas e, enfim, viver uma vida que seja verdadeiramente nossa.

A pergunta que fica é: você está vivendo seus próprios sonhos ou apenas sobrevivendo ao peso do passado?

Sandro César Roberto
Psicólogo/Psicanalista 

quarta-feira, 2 de abril de 2025


 


O Preconceito Velado: A Face Oculta da Intolerância

O preconceito não precisa ser escancarado para ser real. Ele pode estar nos olhares desviados, nas oportunidades negadas, nos comentários aparentemente inofensivos, mas carregados de julgamento. Pode ser contra negros, homossexuais ou qualquer pessoa que adote uma ideologia política diferente da maioria. O alvo pode mudar, mas o mecanismo da intolerância é sempre o mesmo: a recusa em aceitar o outro como ele é.

Há quem acredite que o preconceito desapareceu, que vivemos em uma sociedade mais justa e inclusiva. Mas o que realmente aconteceu foi uma mudança de estratégia: o preconceito não grita mais, sussurra. Ele se esconde atrás de discursos de “opinião pessoal”, de “liberdade de expressão” e até mesmo de políticas que, sob a máscara da neutralidade, perpetuam desigualdades.

O racismo, por exemplo, não é só aquele que xinga na rua, mas também o que nega um emprego sob justificativas vagas. A homofobia não se limita à agressão física, mas também à piada dita em tom de “brincadeira” que reforça estereótipos e inferioriza. O preconceito ideológico não se manifesta apenas no ataque aberto, mas na deslegitimação sistemática de quem pensa diferente, tornando qualquer divergência uma guerra de aniquilação.

Diante disso, o que fazer? O silêncio não é opção. Cabe a nós nos movimentarmos, cobrarmos mudanças – seja no campo cultural, educacional ou criminal. Se a cultura propaga intolerância, deve ser transformada. Se a lei ainda protege o preconceituoso, deve ser revisada. Se a sociedade segue normalizando a exclusão, deve ser confrontada.

O respeito ao outro não é uma concessão, é um dever. E só a ação consciente pode quebrar as correntes de um preconceito que insiste em mudar de forma, mas nunca de essência.

Sandro César Roberto
Psicologo/Psicanalista 

terça-feira, 1 de abril de 2025


 A exposição excessiva dos jovens à internet é um fenômeno que marca a Geração Z, trazendo tanto benefícios quanto desafios significativos sob a ótica da psicologia.

Benefícios

A internet ampliou o acesso à informação e à educação, permitindo que os jovens desenvolvam habilidades cognitivas e sociais de forma acelerada. A conectividade facilita a troca de experiências culturais, fortalece redes de apoio emocional e possibilita o engajamento em causas sociais. Além disso, o ambiente digital favorece o empreendedorismo jovem, oferecendo novas oportunidades de aprendizado e trabalho.

Atrasos e Desafios

Por outro lado, o uso excessivo da internet pode prejudicar o desenvolvimento emocional e social dos jovens. A exposição constante a conteúdos filtrados nas redes sociais pode gerar comparações irreais, aumentando a ansiedade e reduzindo a autoestima. O tempo prolongado em ambientes virtuais também pode comprometer habilidades interpessoais, dificultando interações no mundo real. Do ponto de vista neuropsicológico, o excesso de estímulos pode afetar a capacidade de concentração e memória, impactando negativamente o aprendizado e a tomada de decisões.

Reflexão Psicológica

A psicologia destaca a importância do equilíbrio no uso da internet. Estratégias como a educação digital, o incentivo a interações presenciais e o desenvolvimento da autorregulação emocional são essenciais para que a Geração Z aproveite os benefícios do mundo digital sem comprometer seu bem-estar mental e social.

Sandro César Roberto
Psicologo/psicanalista

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