quinta-feira, 31 de julho de 2025

Fim da Instituição Famíliar


Sexo casual, leis injustas e o medo de amar: o colapso silencioso da masculinidade emocional

Vivemos a era do prazer instantâneo, onde o sexo casual se tornou comum, mas o compromisso virou raridade. Por trás disso, há um problema mais profundo: muitos homens estão deixando de acreditar no amor e na ideia de formar uma família. E não é apenas medo do sentimento, é medo do sistema.

Leis que obrigam o homem a pagar pensão por um filho que ele não gerou biologicamente — e, às vezes, nem mesmo sabia da existência — criam uma ferida silenciosa. Enquanto o pai biológico, em muitos casos, sequer é cobrado, um outro homem é responsabilizado simplesmente por ter passado pela vida da mãe. Há ainda quem use a criança como instrumento de vingança ou fonte de renda, alimentando um ciclo perverso onde verdade e justiça se separam.

O impacto psicológico é devastador. Muitos homens se sentem traídos, usados e punidos por amar ou confiar. Desenvolvem ansiedade, depressão, medo de relações afetivas, e acabam adotando comportamentos de distanciamento emocional. Tornam-se frios não por natureza, mas por autodefesa. Criam barreiras para o amor por temor das consequências jurídicas e morais.

Ao mesmo tempo, isso corrói as bases das relações humanas. As mulheres também sofrem — com homens cada vez mais ausentes emocionalmente, inseguros, e desconfiados. O afeto vira risco. O toque vira medo. E o compromisso, uma bomba-relógio.

O sexo casual virou válvula de escape, mas não resolve o vazio. Pelo contrário: aprofunda a sensação de solidão e reforça o ciclo da desconfiança. A masculinidade entra em colapso silencioso, e ninguém quer ouvir o grito abafado da injustiça emocional.

Não se trata de negar o direito das crianças, que sempre devem ser protegidas. Trata-se de repensar leis, atitudes e narrativas que ferem, ao invés de unir. Se a justiça continuar cega ao sofrimento emocional de quem é condenado injustamente, viveremos em uma sociedade cada vez mais incapaz de amar, confiar e construir.

Sandro César Roberto 

sábado, 19 de julho de 2025

Quando a Hipocrisia Afeta a Todos e Todas e Todes




Quando o discurso não encontra a prática, a máscara da incoerência cai.

Falou-se em igualdade de gênero, em proteção às mulheres, às crianças, às minorias. Falou-se muito sobre abuso, violência, estupro, traumas. Mas na hora mais crucial — o momento do voto, da posição clara, da responsabilidade pública — a deputada Érica Hilton vota contra o aumento das penas para estupradores, inclusive quando as vítimas são crianças.

Como aceitar que quem se diz defensora da dignidade humana, negue justiça às vítimas mais indefesas? Como justificar esse voto diante das mães que choram a dor do abuso de um filho, das mulheres que lutam para sobreviver aos próprios corpos violados?

Não se trata mais de ideologia. Trata-se de coerência moral.
Quem protege estuprador, trai a confiança do povo.
E, pior: silencia quem já sofreu demais.

Sandro César Roberto 

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Tudo tem seu tempo, será?


O Tempo, os Fracassos e o Futuro na Visão da Psicanálise

O tempo na psicanálise não é linear. Ele pulsa dentro de nós, em memórias, desejos e repetições. O que passou continua vivo, o presente é atravessado por marcas inconscientes, e o futuro é sempre uma construção psíquica permeada de expectativa e angústia.

Os fracassos, por sua vez, não são apenas quedas no percurso. Muitas vezes, são repetições de padrões inconscientes, sinais de conflitos internos não elaborados ou defesas contra o próprio desejo. A psicanálise nos ensina que o fracasso pode ser uma linguagem do inconsciente: quando o sujeito se sabota, pode estar obedecendo a mandatos invisíveis herdados da infância, da culpa, do medo de desejar.

Aquilo que não conseguimos realizar — os sonhos interrompidos, os caminhos não trilhados — também dizem de nós. Não são meramente ausências, mas testemunhos da nossa história emocional. Freud já afirmava que o sujeito não é senhor em sua própria casa: há forças internas que influenciam nossas escolhas, nossas perdas e nossos adiamentos.

Mas é justamente nesse ponto que se abre uma porta para o futuro. Ao dar voz ao inconsciente, ao interpretar os sintomas e reconhecer os padrões que se repetem, o sujeito pode reescrever sua trajetória. O futuro, então, deixa de ser uma repetição do passado e pode se tornar um espaço de criação, um campo de liberdade.

Fracassar não é o fim. É um chamado à escuta. Um convite para olhar o que não foi possível e perguntar: o que em mim ainda insiste em não me deixar ir adiante?

A psicanálise não promete felicidade plena, mas oferece algo mais profundo: a possibilidade de um encontro com o desejo verdadeiro. E quem encontra seu desejo, encontra também um novo tempo — um tempo onde o futuro não é temido, mas desejado.


sábado, 12 de julho de 2025

"O Politicamente Correto"


A Ilusão do “Seja Você Mesmo” na Luz da Psicanálise

Na lógica psicanalítica, o sujeito não é um ser pronto, transparente e autêntico o tempo todo. Pelo contrário — ele é atravessado por desejos inconscientes, por defesas, por máscaras que muitas vezes nem percebe usar.

No entanto, vivemos em uma era em que o imperativo do “seja você mesmo” ganhou força como se autenticidade fosse uma virtude absoluta. O problema é que essa autenticidade, muitas vezes, serve como defesa narcísica. Justifica grosserias, impulsos destrutivos e a ausência de empatia sob o pretexto de “eu sou assim mesmo”.

A Psicanálise nos ensina que o sujeito ético não é aquele que se entrega a todos os seus impulsos, mas sim aquele que consegue colocar limites ao seu gozo, que escuta o outro e que se responsabiliza por suas palavras e atos.

Dizer tudo o que se pensa, agir apenas com base no desejo imediato, sem considerar o impacto no outro, é mais um sintoma do ego inflado do que um sinal de liberdade. Ser você mesmo não pode ser um salvo-conduto para o desrespeito, nem um disfarce para a falta de elaboração psíquica.

Autenticidade sem elaboração é ato falho. É impulso. E o verdadeiro sujeito só emerge quando ele se pergunta: “O que o outro me causa? O que eu estou tentando evitar com essa ‘verdade’ que me protege?”

Sandro César Roberto 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

"Solidão e Abismo"

Entre a Solidão e o Abismo: Um Olhar Psicanalítico sobre o Adolescente que Matou a Família

Um jovem mata sua família. O horror toma conta das manchetes. Mas o que se esconde por trás de um ato tão brutal, cometido por alguém em plena adolescência? A psicanálise, mais do que buscar culpados imediatos, convida a olhar para o subterrâneo da alma humana, onde pulsões, traumas e desejos mal elaborados constroem narrativas silenciosas, às vezes fatais.

No caso em questão, o adolescente não agiu sozinho no sentido simbólico. Havia uma presença virtual feminina, uma moça com quem ele conversava e que, segundo relatos, acompanhou — e talvez tenha incentivado — os atos em tempo real. Aqui, o conceito de alienação subjetiva se torna central: o jovem, emocionalmente fragilizado, pode ter projetado nessa figura a única possibilidade de vínculo, de escuta e de afeto. Mas esse vínculo, ao invés de o salvar, o empurrou para o abismo.

Para a psicanálise, o adolescente está atravessando o que chamamos de crise da constituição do Eu, uma etapa em que o sujeito busca uma identidade, um pertencimento, uma posição no mundo. Se não há mediação parental adequada, escuta afetiva ou limites simbólicos, o jovem pode ser dominado pelo princípio do gozo, pelo acting out, pela necessidade de romper com tudo que o reprime — inclusive com a própria família.

O vínculo com a moça que o acompanhava online pode ser visto como uma forma de transferência distorcida, na qual ele deposita suas angústias, inseguranças e ideais. E ela, talvez por perversão ou fragilidade psíquica própria, o acolhe não para ajudá-lo a simbolizar, mas para reafirmar o desejo destrutivo que ali já germinava.

Esse episódio revela o quanto a tecnologia, sem filtro emocional e ético, pode se tornar terreno fértil para manipulações e delírios. Em tempos em que as relações se dão por telas e curtidas, muitos adolescentes, solitários e não ouvidos, constroem vínculos com figuras que ocupam o lugar de supostos "salvadores" — mas que, na verdade, alimentam seus fantasmas.

A psicanálise não justifica o crime, mas nos obriga a perguntar: onde estavam os laços, os limites e os afetos antes do rompimento? Que dor interna pulsava nesse jovem para que o gesto mais radical contra a origem de sua existência — a própria família — se tornasse possível?

A resposta, como sempre na psicanálise, não está no julgamento imediato, mas na escuta. Uma escuta que a sociedade, os adultos e o sistema muitas vezes falham em oferecer.

Sandro César Roberto 
Psicanalista 

quarta-feira, 9 de julho de 2025

"Quando as Máscaras Caem"

O Rosto Que Sorri e a Mão Que Fere: A Dualidade no Amor Segundo a Psicanálise"

Na superfície, ele ou ela é encantador(a), carismático(a), prestativo(a) e cativante — alguém que qualquer pessoa gostaria de ter por perto. Mas basta um desentendimento, um “não” ou qualquer atitude que frustre sua expectativa para surgir a face oculta: agressiva, manipuladora, controladora e, por vezes, violenta. Esse é o retrato psicanalítico da personalidade dual, onde o sujeito parece viver sob o domínio de duas forças internas distintas e contraditórias.

A psicanálise entende esse fenômeno como resultado de conflitos inconscientes não elaborados. Muitas vezes, essa divisão psíquica remonta à infância, marcada por traumas, rejeições, abusos ou abandono. A criança aprende a esconder a dor e a raiva sob uma máscara socialmente aceita — o "Eu Ideal" — ao mesmo tempo em que reprime sentimentos agressivos que, eventualmente, escapam sob formas de violência ou controle no ambiente íntimo.

Esse comportamento de duplicidade — de ser afável com o mundo e cruel com quem está mais próximo — é uma armadilha emocional. O parceiro ou parceira se vê preso em um ciclo confuso, onde a esperança de reencontrar o lado "bom" da pessoa o(a) impede de perceber o perigo real representado pela face sombria. Essa oscilação constante entre afeto e dor instala, muitas vezes, um vínculo perverso e altamente destrutivo, semelhante à chamada Síndrome de Estocolmo emocional.

As consequências são sérias. A vítima pode desenvolver ansiedade crônica, depressão, baixa autoestima, culpa excessiva, medo constante e até transtornos psíquicos mais profundos. Em casos mais graves, essa dualidade não tratada pode escalar para agressões físicas, psicológicas e até o feminicídio ou suicídio.

Do ponto de vista psicanalítico, é essencial compreender que o sujeito que vive essa cisão interna está em sofrimento, embora isso nunca justifique o sofrimento que causa ao outro. Sem tratamento, essa estrutura tende a se repetir em ciclos, relações e gerações. O narcisismo, o recalque da agressividade e a dificuldade de simbolizar a dor interna são combustíveis dessa dualidade.

Sandro César Roberto 

Feminismo x felicidade

Feminismo x Felicidade: “Liberdade ou cobrança?” O feminismo trouxe conquistas históricas, mas também gerou novos impasses. Muitas mulheres ...