A Ilusão do “Seja Você Mesmo” na Luz da Psicanálise
Na lógica psicanalítica, o sujeito não é um ser pronto, transparente e autêntico o tempo todo. Pelo contrário — ele é atravessado por desejos inconscientes, por defesas, por máscaras que muitas vezes nem percebe usar.
No entanto, vivemos em uma era em que o imperativo do “seja você mesmo” ganhou força como se autenticidade fosse uma virtude absoluta. O problema é que essa autenticidade, muitas vezes, serve como defesa narcísica. Justifica grosserias, impulsos destrutivos e a ausência de empatia sob o pretexto de “eu sou assim mesmo”.
A Psicanálise nos ensina que o sujeito ético não é aquele que se entrega a todos os seus impulsos, mas sim aquele que consegue colocar limites ao seu gozo, que escuta o outro e que se responsabiliza por suas palavras e atos.
Dizer tudo o que se pensa, agir apenas com base no desejo imediato, sem considerar o impacto no outro, é mais um sintoma do ego inflado do que um sinal de liberdade. Ser você mesmo não pode ser um salvo-conduto para o desrespeito, nem um disfarce para a falta de elaboração psíquica.
Autenticidade sem elaboração é ato falho. É impulso. E o verdadeiro sujeito só emerge quando ele se pergunta: “O que o outro me causa? O que eu estou tentando evitar com essa ‘verdade’ que me protege?”
Sandro César Roberto
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