quarta-feira, 9 de julho de 2025

"Quando as Máscaras Caem"

O Rosto Que Sorri e a Mão Que Fere: A Dualidade no Amor Segundo a Psicanálise"

Na superfície, ele ou ela é encantador(a), carismático(a), prestativo(a) e cativante — alguém que qualquer pessoa gostaria de ter por perto. Mas basta um desentendimento, um “não” ou qualquer atitude que frustre sua expectativa para surgir a face oculta: agressiva, manipuladora, controladora e, por vezes, violenta. Esse é o retrato psicanalítico da personalidade dual, onde o sujeito parece viver sob o domínio de duas forças internas distintas e contraditórias.

A psicanálise entende esse fenômeno como resultado de conflitos inconscientes não elaborados. Muitas vezes, essa divisão psíquica remonta à infância, marcada por traumas, rejeições, abusos ou abandono. A criança aprende a esconder a dor e a raiva sob uma máscara socialmente aceita — o "Eu Ideal" — ao mesmo tempo em que reprime sentimentos agressivos que, eventualmente, escapam sob formas de violência ou controle no ambiente íntimo.

Esse comportamento de duplicidade — de ser afável com o mundo e cruel com quem está mais próximo — é uma armadilha emocional. O parceiro ou parceira se vê preso em um ciclo confuso, onde a esperança de reencontrar o lado "bom" da pessoa o(a) impede de perceber o perigo real representado pela face sombria. Essa oscilação constante entre afeto e dor instala, muitas vezes, um vínculo perverso e altamente destrutivo, semelhante à chamada Síndrome de Estocolmo emocional.

As consequências são sérias. A vítima pode desenvolver ansiedade crônica, depressão, baixa autoestima, culpa excessiva, medo constante e até transtornos psíquicos mais profundos. Em casos mais graves, essa dualidade não tratada pode escalar para agressões físicas, psicológicas e até o feminicídio ou suicídio.

Do ponto de vista psicanalítico, é essencial compreender que o sujeito que vive essa cisão interna está em sofrimento, embora isso nunca justifique o sofrimento que causa ao outro. Sem tratamento, essa estrutura tende a se repetir em ciclos, relações e gerações. O narcisismo, o recalque da agressividade e a dificuldade de simbolizar a dor interna são combustíveis dessa dualidade.

Sandro César Roberto 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Sua opinião é muito importante para nós!
Deixe seu comentário, dúvida ou sugestão e participe dessa jornada pelo autoconhecimento. Estamos aqui para ouvir você e tornar o Caminhos do Inconsciente um espaço ainda mais enriquecedor!"

Feminismo x felicidade

Feminismo x Felicidade: “Liberdade ou cobrança?” O feminismo trouxe conquistas históricas, mas também gerou novos impasses. Muitas mulheres ...