quinta-feira, 23 de outubro de 2025

"Inveja"


O olhar psicanalítico sobre a inveja e o desejo de prejudicar

Sob o olhar da psicanálise, a inveja não é apenas um sentimento simples de querer o que o outro tem — é um afeto primitivo, profundamente enraizado na estrutura do psiquismo humano. Surge cedo, ainda na infância, quando o bebê percebe que o outro possui algo que ele deseja intensamente, mas não pode ter. Nesse instante, forma-se uma tensão entre o desejo e a falta, e o objeto amado passa a ser, ao mesmo tempo, fonte de prazer e de ódio.

O desejo de prejudicar o outro, de destruir aquilo que causa inveja, é uma defesa inconsciente diante da dor de se sentir inferior ou impotente. Em vez de lidar com a frustração, o ego tenta “eliminar” o objeto que desperta o incômodo. É uma tentativa inconsciente de restaurar o equilíbrio psíquico — uma fantasia de que, ao diminuir o outro, se recupera o próprio valor.

Por isso, a psicanálise reconhece que todos nós estamos sujeitos à inveja. Ela é parte da condição humana e, quando negada, pode se transformar em ressentimento, sabotagem ou prazer no sofrimento alheio. O desafio está em reconhecer esse afeto sem se deixar dominar por ele. Quando a inveja é reconhecida e elaborada, pode se converter em admiração, inspiração e crescimento.

Em última análise, a psicanálise nos ensina que a inveja fala menos sobre o outro e mais sobre a nossa relação com a falta, com o desejo e com o amor. É no reconhecimento dessa sombra interna que começa o verdadeiro processo de amadurecimento psíquico.

— Sandro

Referência:
Klein, M. Inveja e gratidão (1957).

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