O Silêncio das Máquinas e o Grito do Inconsciente
Na era da inteligência artificial, a humanidade presencia uma substituição silenciosa, porém perturbadora. Bebês Reborn e bonecas sexuais infláveis, cada vez mais realistas, agora falam, sorriem, gemem. São criações perfeitas: não choram, não cansam, não exigem. Não há sujeira, não há custo emocional, não há vínculo real. Apenas obediência e silêncio.
À luz da Psicanálise, podemos perguntar: o que está sendo recalcado aqui? A função materna e paterna é anulada. O desejo do Outro – aquele que incomoda, que demanda, que convoca à responsabilidade – é eliminado. Trocamos a alteridade pelo espelho narcísico de uma máquina que nos responde com aquilo que queremos ouvir.
O que parece um avanço tecnológico pode ser, na verdade, uma castração simbólica. Um controle gestacional disfarçado, onde não se trata apenas de evitar filhos, mas de evitar o humano em sua essência: o imprevisível, o difícil, o desejante.
Freud nos lembra que a civilização se estrutura sobre o recalque e o sacrifício pulsional. Mas quando a tecnologia oferece um simulacro que dispensa o conflito e o desejo, talvez estejamos diante de um novo sintoma: o gozo sem laço, o prazer sem vida.
O perigo não está nas máquinas que falam, mas no silêncio de um sujeito que deixa de escutar seu próprio inconsciente.
Sandro César Roberto
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