O Homem da Ponte: Quando a Dor Fala Mais Alto que a Vida
Ele era conhecido como um empresário respeitado. Dono de um sorriso fácil e presença marcante nos eventos sociais, poucos imaginavam o que se passava por trás da imagem bem-sucedida. A tragédia aconteceu de forma silenciosa e brutal: ele acelerou o carro e jogou contra a mureta da ponte. Um suicídio que chocou a cidade e deixou perguntas pairando no ar.
Por trás daquele ato desesperado, havia uma história de abandono emocional, álcool e relações marcadas pela deslealdade. Ele havia descoberto uma traição, mas a ferida era mais profunda que um adultério — era o colapso de um mundo inteiro que ele construiu tentando esconder a própria dor. A família, já desestruturada, não oferecia o suporte necessário. O empresário carregava o peso de ser forte demais por fora e fraco demais por dentro.
O álcool, inicialmente companheiro das noites de insônia, tornou-se o anestésico do dia a dia. A embriaguez escondia lágrimas que nunca foram vistas e angústias que jamais foram verbalizadas. Tentou mudar — por ele, pela esposa, pelos filhos. Mas a tentativa veio tarde demais. Quando as relações estão esgotadas e os afetos corroídos, até mesmo o arrependimento encontra portas fechadas.
Do ponto de vista psicanalítico, o suicídio não é simplesmente um desejo de morrer, mas um grito silencioso de quem não consegue mais suportar o sofrimento psíquico. O ego, enfraquecido por frustrações, rejeições e culpas, entra em colapso. Quando não há simbolização possível para a dor — quando ela não pode ser transformada em palavra, escuta ou acolhimento — o sujeito busca a destruição do próprio corpo como única saída para interromper o sofrimento.
A traição, na psicanálise, representa não apenas uma quebra da confiança, mas a ativação de feridas narcísicas antigas. É como se o sujeito deixasse de existir para o outro — e essa invisibilidade o destrói internamente. A falta de apoio familiar apenas reforça a sensação de abandono primitivo, e o álcool entra como tentativa de preenchimento do vazio emocional.
Infelizmente, há momentos em que a tentativa de mudança chega tarde demais.
Para ele, que já não encontrava mais sentido.
Para a esposa, que já havia se desconectado afetivamente.
Para os filhos, que cresceram em meio ao ruído de uma casa sem escuta.
A história desse empresário é um alerta cruel sobre o que acontece quando o sofrimento é silenciado, quando os sinais são ignorados e quando as relações humanas se tornam apenas aparência. A psicanálise nos convida a ouvir além das palavras, a acolher antes que a dor se torne incontrolável.
Porque, às vezes, a mudança desejada vem… mas já não há ninguém inteiro o suficiente para recebê-la.
Sandro César Roberto
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