Segunda-feira: o peso invisível de recomeçar
Para muitos, a segunda-feira não é apenas o início da jornada de trabalho — é o gatilho silencioso de um sofrimento psíquico profundo. Enquanto o mundo retoma seu ritmo frenético, milhares de pessoas se afogam na ansiedade, na angústia e na dor existencial de simplesmente continuar. A depressão, disfarçada de cansaço, e a ansiedade, travestida de inquietação produtiva, fazem vítimas diariamente, no Brasil e no mundo.
Na luz da Psicanálise, compreendemos que essa dor não nasce no domingo à noite. Ela é construída silenciosamente em infâncias abafadas, em afetos não reconhecidos, em discursos sociais que impõem sucesso, produtividade e felicidade como metas obrigatórias. O sujeito contemporâneo é cobrado para performar, não para existir. E é aí que mora o abismo.
Entre os jovens, o sofrimento ganha contornos ainda mais cruéis. A era digital cobra imagens perfeitas, respostas rápidas e sonhos que não foram sequer escolhidos por eles. A ausência de escuta, de afeto e de espaço simbólico para o erro e a frustração contribui para a construção de um eu frágil, esmagado pelo ideal do "dar certo".
A segunda-feira, nesse cenário, vira símbolo do retorno à angústia. O corpo vai, mas a alma resiste. A psicanálise nos ensina que é preciso dar voz ao sintoma — ouvir o que a dor quer dizer, acolher o mal-estar sem julgamentos. Não se trata de motivar com frases prontas, mas de criar espaço para a elaboração psíquica, para que o sujeito possa simbolizar suas faltas e encontrar, no próprio desejo, um caminho de reexistência.
Que possamos, como sociedade, sair do automatismo e enxergar a segunda-feira com outros olhos — não como um inimigo, mas como um espelho daquilo que precisa urgentemente ser transformado dentro e fora de nós.
Sandro César Roberto
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