domingo, 16 de novembro de 2025

Rambos do Brasil


Rambo, a Dor Invisível e os “Rambos” da Vida Real no Brasil

O início de Rambo: Programado para Matar nunca foi sobre explosões ou heroísmo. É sobre um homem quebrado.
John Rambo surge como um veterano abandonado pelo mundo, vagando sem rumo, carregando traumas que ninguém enxerga. Busca apenas um rosto amigo, um pouco de compreensão, um lugar onde sua dor possa existir sem ser julgada. Encontra solidão, rejeição e hostilidade.

Rambo escancara uma verdade que preferimos ignorar:
existe sofrimento que anda ao nosso lado, e ainda assim passamos direto, fingindo não ver.

Ele representa todos aqueles que tentam sobreviver à própria mente enquanto o mundo exige força, frieza e silêncio.
E quando o xerife o aborda com desprezo, a violência ali não é só física — é social, emocional, psicológica.
É o recado cru:
“Sua dor não tem espaço aqui.”

E é aqui que a ficção se mistura com nossa realidade.

Quantos Rambos existem hoje no Brasil?

Quando olhamos para as nossas forças de segurança, a pergunta se torna urgente.
Quantos policiais, agentes, militares e servidores públicos estão vivendo o mesmo colapso silencioso?
Homens e mulheres que enfrentam violência todos os dias, carregam traumas, lidam com extremos… e ainda assim não têm o básico: apoio emocional e psicológico.

Eles são exigidos como máquinas, mas sofrem como humanos.
A guerra termina no expediente — mas continua na cabeça.

A expectativa social é brutal:
seja forte, seja duro, não desmorone, não sinta.
Só que por trás da farda existe alguém tentando manter uma família, lidar com perdas, sobreviver à pressão e à falta de estrutura.
Alguém que não tem licença para fraquejar — nem no trabalho, nem em casa.

E isso cobra um preço devastador.

Sem acolhimento, sem terapia, sem preparo emocional, muitos desses profissionais vivem em estado permanente de batalha interna. E o mais trágico é que muitos pedem ajuda apenas com o silêncio… e ninguém escuta.

Precisamos falar sobre isso. Urgente.

Cuidar desses profissionais não é luxo; é necessidade.
A saúde mental deles não é detalhe; é fundamento.
Ignorar isso é perder vidas — às vezes lentamente, às vezes de uma vez.

Rambo, lá atrás em 1982, já mostrava o que acontece quando a sociedade se recusa a enxergar a dor de um guerreiro.
Hoje, no Brasil, não podemos cometer o mesmo erro.

Porque no fim, a questão é simples e brutal:
quantos vamos perder antes de entender que quem protege também precisa ser protegido?

Sandro César Roberto 

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

PET!


Benefícios Psicológicos e Psicanalíticos da Interação com Animais em Pacientes Neurológicos

A presença de animais em contextos terapêuticos tem se mostrado um importante recurso complementar no cuidado de pacientes neurológicos. Cães, cavalos, gatos e até animais de fazenda vêm sendo incorporados em programas de reabilitação física e emocional, produzindo efeitos notáveis tanto na recuperação motora quanto na esfera psíquica do sujeito.

Do ponto de vista psicológico, o contato com o animal desperta sentimentos de afeto, empatia e segurança. Pacientes que frequentemente se sentem isolados, limitados por suas condições neurológicas, passam a experienciar um vínculo vivo e responsivo. O toque, o olhar e o cuidado com o animal estimulam a liberação de ocitocina e serotonina, hormônios ligados ao bem-estar, reduzindo a ansiedade, a depressão e o estresse.

Na psicanálise, essa relação ultrapassa o campo fisiológico: o animal ocupa um lugar simbólico, funcionando como um espelho afetivo que não julga, não exige coerência verbal e aceita o sujeito em sua condição de fragilidade. Através do vínculo com o animal, o paciente pode projetar sentimentos, medos e afetos reprimidos, encontrando uma forma de expressão emocional não verbal que muitas vezes antecede ou complementa a fala.

Em pacientes com lesões neurológicas, doenças degenerativas (como Parkinson ou Alzheimer) ou condições como autismo e paralisia cerebral, o animal pode tornar-se um mediador terapêutico. No caso da equinoterapia, por exemplo, o cavalo proporciona estímulos motores tridimensionais que favorecem o equilíbrio, a coordenação e o tônus muscular. Já a cão-terapia atua mais diretamente nas dimensões afetivas e sociais, reforçando o sentimento de pertencimento e autoestima.

Além disso, o pet assume um papel simbólico fundamental na reconstrução da subjetividade. Ele representa o cuidado, a escuta silenciosa e a presença constante — aspectos muitas vezes carentes em ambientes hospitalares ou de reabilitação. A relação afetiva com o animal reintroduz no paciente o sentimento de ser olhado e reconhecido, algo essencial para a restauração da identidade e do desejo de viver.

Em síntese, o uso terapêutico de animais não é apenas um recurso auxiliar, mas um instrumento de reintegração emocional e simbólica. Na união entre corpo, afeto e inconsciente, o animal torna-se um elo entre o humano e o vital, despertando no paciente neurológico algo que a psicanálise valoriza profundamente: a possibilidade de reencontrar o sentido do laço e da vida.

Sandro César Roberto 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Masculino/Feminino

O Adolescente e a Repulsa pela Própria Feminilidade

Na contemporaneidade, observa-se um fenômeno crescente: adolescentes do sexo masculino manifestando traços femininos — na fala, na postura, na sensibilidade e até na forma de expressão emocional — e, paradoxalmente, demonstrando repulsa, vergonha ou até hostilidade diante dessas mesmas características.

Esse conflito interno nasce da colisão entre dois mundos psíquicos. De um lado, a sociedade moderna, que flexibiliza papéis de gênero e valoriza a liberdade de expressão. Do outro, um inconsciente coletivo ainda preso a arquétipos rígidos de masculinidade — o guerreiro, o dominador, o invulnerável.

Quando o jovem, em processo de formação de identidade, expressa aspectos da anima (a parte feminina da psique descrita por Jung), ele toca zonas de vulnerabilidade e afeto que a cultura masculina costuma reprimir. O desconforto, então, não vem apenas da aparência ou do gesto, mas da sensação de “traição” ao ideal masculino internalizado desde a infância.

A repulsa é, na verdade, um mecanismo de defesa — uma forma inconsciente de tentar recalcar aquilo que desperta medo: a perda da referência identitária e o julgamento social. Ao rejeitar o feminino em si, o adolescente busca reafirmar a masculinidade idealizada, mas acaba se distanciando da própria autenticidade emocional.

O trabalho terapêutico deve focar na integração: compreender que os polos masculino e feminino coexistem em todos os seres humanos, e que o equilíbrio entre força e sensibilidade é o verdadeiro sinal de maturidade psíquica. Somente quando o adolescente aceita suas nuances, ele deixa de lutar contra si mesmo e começa, enfim, a se tornar inteiro.

Sandro César Roberto 

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Entre o amor e a espada


🕋 REALIDADE CRUEL — O AMOR SOB A ESPADA

Em algumas nações onde a fé dita a lei, o simples ato de amar pode custar a vida.
Homens são perseguidos, torturados e, muitas vezes, decapitados em praças públicas, diante de multidões que aplaudem como se o sangue limpasse o pecado.
Outros são apedrejados, enforcados ou lançados do alto de edifícios — e tudo isso em nome de Deus.

O crime?
Amar alguém do mesmo sexo.
Desejar o que o dogma não permite.
Ser o que a tradição insiste em apagar.

A fé que deveria acolher se torna lâmina; o altar, cadafalso.
E o silêncio do mundo é ensurdecedor.
Enquanto corpos tombam, governos se calam, e o medo se perpetua nos becos e nas almas.

Esses homens e mulheres vivem o terror de existir entre duas mortes:
a física, que os regimes impõem;
e a psíquica, que nasce da vergonha, do ódio introjetado e da culpa que corrói o ser.

Na lente da psicanálise, o que vemos é um ego despedaçado — o sujeito aprisionado entre o desejo e o superego social que o condena.
Ele aprende a odiar a si mesmo para tentar sobreviver num ambiente que o nega.
Mas o recalque coletivo sempre cobra seu preço: violência, repressão e sofrimento que se repetem de geração em geração.

A verdadeira doença não está no desejo —
está na sociedade que precisa destruir o outro para silenciar o próprio medo.

E talvez um dia, quando o amor deixar de ser sentença e voltar a ser milagre,
a fé volte a cumprir seu papel original: salvar, não matar.

Sandro César Roberto 

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quinta-feira, 23 de outubro de 2025

"Inveja"


O olhar psicanalítico sobre a inveja e o desejo de prejudicar

Sob o olhar da psicanálise, a inveja não é apenas um sentimento simples de querer o que o outro tem — é um afeto primitivo, profundamente enraizado na estrutura do psiquismo humano. Surge cedo, ainda na infância, quando o bebê percebe que o outro possui algo que ele deseja intensamente, mas não pode ter. Nesse instante, forma-se uma tensão entre o desejo e a falta, e o objeto amado passa a ser, ao mesmo tempo, fonte de prazer e de ódio.

O desejo de prejudicar o outro, de destruir aquilo que causa inveja, é uma defesa inconsciente diante da dor de se sentir inferior ou impotente. Em vez de lidar com a frustração, o ego tenta “eliminar” o objeto que desperta o incômodo. É uma tentativa inconsciente de restaurar o equilíbrio psíquico — uma fantasia de que, ao diminuir o outro, se recupera o próprio valor.

Por isso, a psicanálise reconhece que todos nós estamos sujeitos à inveja. Ela é parte da condição humana e, quando negada, pode se transformar em ressentimento, sabotagem ou prazer no sofrimento alheio. O desafio está em reconhecer esse afeto sem se deixar dominar por ele. Quando a inveja é reconhecida e elaborada, pode se converter em admiração, inspiração e crescimento.

Em última análise, a psicanálise nos ensina que a inveja fala menos sobre o outro e mais sobre a nossa relação com a falta, com o desejo e com o amor. É no reconhecimento dessa sombra interna que começa o verdadeiro processo de amadurecimento psíquico.

— Sandro

Referência:
Klein, M. Inveja e gratidão (1957).

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Marcados


O Código Invisível

As escrituras alertam: “E fará que a todos... lhes seja posto um sinal na mão direita ou na testa, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal...” (Apocalipse 13:16-17). Por séculos, interpretamos esse trecho como uma profecia distante, um futuro sombrio onde o demônio marcaria a humanidade com o código da besta — talvez um número, um chip, uma marca física. Mas será que esse futuro já não chegou silenciosamente, sem chifres nem chamas?

Hoje, todos estamos marcados. Padres, pastores, bispos, fiéis — todas as igrejas, todas as mãos, até as das crianças. A marca não veio como temíamos, veio como desejávamos. Um código de barras, um QR Code, um chip no celular. Nenhum de nós vive sem ele. Não compramos, não vendemos, não viajamos, não nos localizamos sem o sistema que carrega o “sinal” digital de cada um.

O texto sagrado não explicou como seria essa marca — apenas que viria. E ela veio. Entrou em nossos bolsos, grudou em nossas mãos, rastreia nossos passos e dita nossos hábitos. Tornou-se conforto, status e dependência. Pagamos caro para tê-la. Amamos o que nos controla.

A marca não é mais o medo do inferno. É a sedução do progresso. E enquanto celebramos o avanço, esquecemos que talvez a profecia não falava de um chip no corpo… mas de uma prisão invisível na alma.

Sandro César Roberto
Psicanalista

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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Amor canino


O elo terapêutico entre a criança e o cachorro 🐾💫

Na luz da Psicologia, a presença de um cachorro na vida de uma criança com transtornos neurológicos é mais do que companhia — é intervenção emocional e desenvolvimento afetivo em forma de afeto. O animal não fala, mas comunica. Não interpreta, mas compreende. Ele acessa, sem esforço, aquilo que muitas vezes a palavra não alcança: o vínculo.

A interação com o cachorro desperta na criança algo essencial — a sensação de ser aceita como é. Esse vínculo estimula a autorregulação emocional, reduz a ansiedade e favorece a socialização, pois o animal funciona como um mediador entre o mundo interno e o externo. O toque, o olhar e o ritmo tranquilo da convivência com o cão ajudam o cérebro infantil a reorganizar emoções, favorecendo o aprendizado e o bem-estar.

Mais que um amigo, o cachorro se torna um espelho emocional, refletindo segurança, amor e constância. Ele ensina empatia, desperta a afetividade e devolve à criança o sentido do vínculo humano — de forma pura, sem julgamento, e com uma ternura que nenhuma técnica é capaz de simular.

Em cada gesto simples, o cachorro faz aquilo que a Psicologia mais busca: curar por meio do vínculo, do afeto e da presença verdadeira. 🧠🐶💙
Sandro César Roberto 
Claudio (adestrador )

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

A Moda do Obscuro


É perturbador perceber como a moda contemporânea flerta com o obscuro, transformando em estética o que foi símbolo de dor e opressão. Da idolatria velada aos uniformes militares nazistas à recente apropriação das listras dos prisioneiros dos campos de concentração, a indústria parece testar os limites da memória e da ética. O que antes marcava a desumanização, hoje é desfilado com glamour e ignorância histórica. Falta discernimento, empatia e, sobretudo, consciência. Quando a vaidade supera a lembrança do sofrimento humano, a moda deixa de ser expressão e passa a ser provocação vazia — um espelho frio da nossa superficialidade coletiva.

Avaliação psicanalítica:
Sob a ótica psicanalítica, a moda contemporânea revela uma busca inconsciente por poder e pertencimento. A repetição de símbolos ligados à dor e à dominação não é acaso, mas um retorno do reprimido: a tentativa de reencenar, de forma estetizada, aquilo que a humanidade não elaborou plenamente — a culpa e o trauma da barbárie. O consumo de imagens ligadas ao sofrimento é uma forma de negar a própria fragilidade, projetando força onde houve horror. A moda, assim, torna-se sintoma: uma linguagem inconsciente que expressa a negação do luto coletivo e o fascínio do ego pela dominação e pela estética do poder.

Sandro César Roberto 

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Quando o Amor se Vai!

O Enfraquecimento do Carinho e do Amor Conjugal na Perspectiva Psicanalítica

Na visão psicanalítica, o amor entre cônjuges é um campo complexo, tecido por desejos inconscientes, projeções e identificações que se entrelaçam desde o início da relação. No entanto, com o passar do tempo, esse amor pode se fragilizar — não apenas por fatores externos, mas por movimentos internos do próprio psiquismo de cada parceiro.

O carinho e a ternura, que no início fluem como expressão espontânea do desejo de fusão e pertencimento, podem, aos poucos, dar lugar à indiferença. O sujeito, inconscientemente, começa a deslocar seus afetos, a retirar o investimento libidinal que antes estava colocado no outro. Freud chamou esse movimento de “retirada da libido objetal”, que ocorre quando o parceiro deixa de ser fonte de satisfação emocional e passa a ser percebido como objeto frustrante ou ameaçador à autonomia do eu.

Muitas vezes, o que chamamos de “rotina” é, na verdade, o resultado de um recalque do desejo — um medo de revisitar o próprio inconsciente, de lidar com as faltas e as idealizações projetadas no parceiro. Assim, o amor inicial, que tinha um caráter simbiótico e idealizado, se decompõe diante da realidade psíquica e das frustrações inevitáveis da convivência.

O enfraquecimento do carinho é, portanto, um sintoma. Ele denuncia um distanciamento emocional que pode indicar não apenas o fim de um ciclo afetivo, mas também a dificuldade de cada sujeito em sustentar o vínculo diante de suas próprias contradições internas. Quando o amor esfria, o inconsciente grita — e muitas vezes, o casal silencia.

Na luz da Psicanálise, a possível ruptura não é apenas o término de uma relação amorosa, mas o desmoronar de um pacto inconsciente: aquele que unia dois sujeitos não apenas pelo afeto, mas pela necessidade mútua de se reconhecer e se espelhar no outro.
Quando esse espelho se quebra, o casal é convidado — consciente ou inconscientemente — a revisitar suas origens afetivas, seus medos de abandono e suas formas de amar. É nesse ponto que se abre o espaço para o trabalho analítico: compreender o que se perde quando o amor enfraquece e o que, de fato, se tenta preservar com a ruptura.

Sandro César Roberto 


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terça-feira, 23 de setembro de 2025

Feminismo x felicidade

Feminismo x Felicidade: “Liberdade ou cobrança?”
O feminismo trouxe conquistas históricas, mas também gerou novos impasses. Muitas mulheres se veem pressionadas a serem “fortes”, “independentes” e, ao mesmo tempo, realizadas em todas as esferas. A psicanálise mostra que a felicidade não está em padrões coletivos, mas no encontro singular com o próprio desejo. O risco é transformar a liberdade em mais uma cobrança, quando o que se busca é a possibilidade de ser quem realmente se é.

Sandro César Roberto 


segunda-feira, 22 de setembro de 2025

"Álcoolismo"


A influência psicológica no alcoolismo e o papel do AA

O alcoolismo não é apenas uma questão de consumo excessivo, mas um sintoma de conflitos internos, frustrações e mecanismos de defesa que a mente utiliza para suportar dores emocionais. Muitas vezes, o álcool aparece como um “anestésico psíquico”, trazendo alívio momentâneo da ansiedade, da angústia e de sentimentos de vazio. Porém, a médio e longo prazo, o uso recorrente mina a autoestima, fragiliza os vínculos afetivos e aprisiona o sujeito em um ciclo de dependência física e psicológica.

Nesse cenário, o Alcoólicos Anônimos (AA) cumpre um papel fundamental. Ao oferecer suporte em grupo, ele cria um espaço de acolhimento, identificação e pertencimento — fatores que combatem diretamente o isolamento, a culpa e a sensação de impotência que acompanham o dependente. A troca de experiências possibilita que a pessoa não apenas se sinta compreendida, mas também encontre exemplos vivos de superação, fortalecendo sua própria esperança.

Do ponto de vista psicológico, os principais obstáculos enfrentados pelo indivíduo no processo de recuperação incluem:

1. Negação – a dificuldade de reconhecer a gravidade do problema, sustentada pela ilusão de controle.


2. Vergonha e culpa – sentimentos que impedem a busca por ajuda e alimentam a autossabotagem.


3. Medo da mudança – abandonar o álcool implica abrir mão de um “companheiro constante”, o que pode ser vivido como perda.


4. Pressões sociais e familiares – ambientes pouco compreensivos ou cheios de cobranças podem reforçar recaídas.


5. Fragilidade emocional – traumas, angústias e conflitos não elaborados exigem enfrentamento psicológico, o que torna a abstinência ainda mais desafiadora.



Assim, o tratamento do alcoolismo exige mais do que disciplina: requer uma transformação interior, apoiada pelo trabalho terapêutico, pelo suporte de grupos como o AA e, sobretudo, pelo reconhecimento de que a dependência não é sinal de fraqueza, mas um pedido inconsciente de socorro.

Sandro César Roberto 

sábado, 20 de setembro de 2025

Suicídio Jovem


💔 Suicídio entre jovens: um alerta que não podemos ignorar
O suicídio é a terceira causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos no mundo. Por trás dos números, existem histórias de dor, isolamento e sofrimento profundo.
⚠️ Por que isso acontece?
Não há uma única causa. Entre os fatores mais comuns estão:

Depressão e ansiedade não tratadas

Bullying, abuso ou violência

Pressão social e acadêmica

Uso de álcool e drogas

Sentimento de ser um fardo para os outros

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Luto


O luto e o acolhimento na escuta psicanalítica

Na perspectiva psicanalítica, o luto é um processo inevitável da existência, porque todo sujeito, em diferentes momentos da vida, é convocado a lidar com perdas. Freud, em Luto e Melancolia (1917), nos lembra que o luto é o trabalho psíquico pelo qual o sujeito se vê obrigado a retirar os investimentos libidinais depositados em um objeto perdido. Esse objeto pode ser uma pessoa amada, mas também um ideal, uma função social, um projeto ou até mesmo uma imagem de si.

O sofrimento diante da perda não se resolve com pressa. A escuta analítica, nesse contexto, é um espaço de acolhimento no qual a dor pode ser dita, repetida, silenciada e elaborada. O analista não oferece respostas prontas, mas sustenta o tempo do sujeito, reconhecendo que a elaboração do luto é singular e não se encaixa em fórmulas universais.

Acolher não significa consolar. Significa legitimar o sofrimento, permitir que o sujeito fale de sua perda sem que esta seja diminuída, comparada ou apressada. O luto, quando acolhido, abre a possibilidade de simbolização: a dor pode ser transformada em narrativa, e a ausência, em memória.

No percurso do luto, a função do analista é sustentar o espaço em que o vazio se torne habitável. Não se trata de apagar a falta, mas de permitir que o sujeito se reposicione diante dela. É no atravessamento dessa experiência que o desejo pode se reconfigurar, oferecendo ao sujeito uma possibilidade de continuar vivendo, agora marcado por uma perda, mas também pela chance de novos significados.

Sandro César Roberto 


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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Dia do Psicólogo


Hoje celebramos o Dia do Psicólogo, uma profissão que vai muito além do consultório.
É a arte de ouvir sem julgamentos, de acolher dores invisíveis, de ajudar a transformar feridas em caminhos de cura.

O psicólogo é aquele que caminha junto, que oferece um olhar humano e científico diante das angústias, conflitos e sonhos.
É quem estende a mão quando a vida parece pesar demais e mostra que dentro de cada pessoa existe força para recomeçar.

Neste dia, celebramos não apenas os profissionais, mas também a missão de cuidar da mente, resgatar a esperança e fortalecer a vida.
Parabéns a todos os psicólogos que fazem da escuta, da empatia e da dedicação uma ponte para o bem-estar humano.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Surto Psicótico Justifica Crime


Tragédia em Sinop: o feminicídio da fonoaudióloga e o surto psicótico

Na tarde de domingo, 24 de agosto de 2025, Ana Paula Abreu Carneiro, de 33 anos, fonoaudióloga graduada pela UnB e cursando mestrado na FGV, foi assassinada com entre 15 e 20 facadas pelo namorado, Lucas França Rodrigues, no centro de Sinop (MT) . Ana era uma profissional querida, que compartilhava sua rotina e declarações amorosas nas redes sociais, o que intensificou a comoção pública .

Segundo a Polícia Civil, o suspeito foi encontrado em estado de surto psicótico, relatando o crime de forma perturbadora: ele enviou fotos do corpo da vítima à família dela e depois à família dele, antes mesmo da prisão . Ele resistiu à prisão e precisou ser contido com armas de choque .


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O contexto psicanalítico

Em uma abordagem psicanalítica, o episódio pode ser visto como o desfecho extremo de uma falha severa na estruturação do ego e uma ruptura com a realidade. O surto psicótico, caracterizado pela perda de contato com o mundo externo e a dominância de pulsões agudamente destrutivas, sugere a superação dos mecanismos normais de defesa (negação, repressão) por uma emergência psíquica sem mediação simbólica.

Psicanaliticamente, pode-se considerar que o objeto amoroso (Ana) foi desinvestido de sua dimensão simbólica e transformado em um alvo pulsional. O ato violento indica uma fusão entre desejo e destruição — a vítima, em última instância, encarna o real traumático que irrompe sem passagem simbólica possível.


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Punição e tratamento: qual o caminho?

1. Justiça penal

No atual ordenamento jurídico brasileiro, um crime dessa gravidade pode configurar feminicídio, cuja pena varia entre 12 e 30 anos de reclusão — podendo ser maior se agravantes estiverem presentes. Deve-se garantir um processo justo, com avaliação psiquiátrica e jurídica para definir capacidade de culpabilidade e eventual imputabilidade reduzida.

2. Tratamento psiquiátrico

Se confirmado que o suspeito estava, de fato, em surto psicótico, é necessário implementar:

Internação em unidade psiquiátrica, com supervisão médica rigorosa e adequada proteção do paciente e da sociedade.

Tratamento medicamentoso e psicoterápico voltado para estabilização clínica e melhor integração psíquica.

Avaliação contínua, incluindo laudos de peritos e revisões judiciais periódicas, para evitar abusos ou liberações prematuras.


3. Políticas públicas e prevenção

Fortalecer o acesso a serviços de saúde mental, com equipes multiprofissionais capazes de identificar sinais de desestruturação psicológica antes que resulte em tragédia.

Criar canais de denúncia e apoio voltados a relações abusivas ou comportamentos psicóticos emergentes.

Programas de educação emocional e empatia nas escolas, incentivando o desenvolvimento de vínculos saudáveis.



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Reflexão final

O caso de Ana Paula Carneiro é uma tragédia incomensurável — uma vida interrompida de forma brutal. Psicanaliticamente, evidencia o que ocorre quando o laço simbólico se desfaz e o sujeito perde a mediação entre o real vingativo e o desejo pulsional. Sob o ponto de vista legal e sanitário, impõe urgência na articulação entre justiça equitativa e cuidado psiquiátrico responsivo.

Só um sistema que assegure proteção à vítima, responsabilização adequada do agressor, e tratamento adequado aos distúrbios psíquicos graves, estará cumprindo a complexa função de prevenir novos episódios devastadores como esse.

Sandro César Roberto 
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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Alcoolismo Jovem


O alcoolismo na adolescência é um fenômeno que ultrapassa o simples ato de beber socialmente. Na luz da psicanálise, compreendemos que o jovem, ainda em processo de construção do seu eu, busca no álcool uma forma de aliviar conflitos internos, ansiedades e lacunas afetivas. O consumo precoce muitas vezes é um pedido de pertencimento: o desejo inconsciente de ser aceito em grupos, de parecer adulto ou de fugir das pressões familiares e sociais.

A modernidade intensifica esse processo: festas, redes sociais, propagandas que glamourizam a bebida, influenciadores digitais e a facilidade de acesso ao álcool empurram o adolescente para um terreno perigoso. O que começa como uma experiência recreativa pode se transformar em dependência, afetando o desenvolvimento emocional, prejudicando o rendimento escolar, comprometendo vínculos familiares e até abrindo portas para outros vícios.

As consequências psíquicas são profundas: baixa autoestima, dificuldade em elaborar frustrações, conflitos na formação da identidade e até comportamentos autodestrutivos. O adolescente, nesse estado, tenta preencher um vazio simbólico com a substância, mas encontra apenas mais angústia e desintegração interna.

Na psicanálise, o olhar volta-se para além do sintoma: busca-se compreender o que o álcool representa na vida desse jovem. É um escudo contra a dor? Um chamado de atenção? Uma tentativa inconsciente de se libertar de figuras de autoridade? O tratamento e a prevenção não podem se limitar à repressão do consumo, mas devem incluir acolhimento, escuta e compreensão, permitindo que o adolescente encontre novas formas de simbolizar sua dor e construir sua subjetividade sem recorrer à fuga química.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Inversão de infinitos valores


Vivemos em um tempo onde a criminalidade cresce não apenas nos números, mas também na mentalidade coletiva. A inversão de valores corroeu o que antes era base da família e do trabalho: hoje, muitas vezes o esforço honesto é desvalorizado, enquanto o atalho ilícito é visto como esperteza.

Na psicanálise social, isso reflete um sintoma profundo: a falência dos referenciais simbólicos que estruturam a vida em comunidade. O trabalhador, que deveria ser exaltado por sustentar a sociedade com suor e dignidade, é frequentemente invisível. Já o criminoso, paradoxalmente, recebe espaço — seja pelo medo que impõe, seja pela romantização de sua figura.

O efeito disso é devastador. Moralmente, o país adoece: crianças crescem sem referências sólidas de ética, e a juventude aprende que transgredir pode ser mais recompensador do que construir. Profissionalmente, instala-se o desencanto: o mérito perde força, a disciplina se fragiliza e a dignidade do trabalho se dissolve.

Quando o crime passa a ser mais valorizado que o esforço, a sociedade não apenas perde o rumo — ela se fragmenta internamente. E a consequência maior é o enfraquecimento do tecido social: famílias desestruturadas, profissionais desmotivados e uma cultura que já não distingue claramente o certo do errado.

O caminho de volta exige mais que leis e punições: requer resgate dos valores humanos, do respeito ao trabalhador e da reconstrução de um ideal coletivo em que o crime não seja visto como caminho, mas como doença social que precisa ser tratada e superada.

Sandro César Roberto 

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Relacionamentos liberais: Liberdade afetiva ou fuga emocional?

A sociedade atual, marcada pela rapidez das conexões e pela valorização do prazer imediato, tem abraçado com mais frequência os chamados relacionamentos liberais. A proposta parece simples: viver o amor e o sexo sem exclusividade, sem posse, com liberdade. Mas sob o olhar da Psicologia, o que está realmente em jogo?

Muitos entram nesse modelo em busca de liberdade, mas alguns o fazem por medo. Medo de se apegar, de sofrer, de repetir traumas antigos. Outros carregam carências profundas, mascaradas pelo discurso da independência afetiva. Há também quem opte por esse caminho como resposta ao fracasso de relacionamentos monogâmicos anteriores.

Os efeitos, porém, nem sempre são leves: sentimentos de solidão, esvaziamento emocional, confusão de identidade afetiva e dificuldades para criar vínculos sólidos são consequências recorrentes.

A Psicologia não condena o modelo liberal — mas alerta para o autoconhecimento. É preciso saber por que você escolhe esse estilo de vida. É liberdade real ou apenas uma fuga emocional?

Relações saudáveis não dependem de rótulos, mas de respeito, consciência e verdade emocional.

Sandro César Roberto 



terça-feira, 5 de agosto de 2025

Quando. beleza é Inimiga


O Peso dos Padrões: Quando a Beleza se Torna Sofrimento

Vivemos sob o domínio de um espelho cruel: o da mídia. Ele reflete padrões inatingíveis, corpos esculpidos, rostos congelados em expressões que não expressam nada. A verdadeira beleza — aquela que nasce da essência — tem sido substituída por uma corrida cega por aceitação.

Homens e mulheres, cada vez mais jovens, buscam no bisturi e nos procedimentos invasivos a resposta para uma pergunta que nem sempre sabem fazer: "Quem sou eu sem a validação do outro?" Muitos desses tratamentos resultam em tragédias físicas e emocionais. Deformações, arrependimentos profundos, e uma autoestima ainda mais fragilizada do que antes.

Do ponto de vista da Psicanálise, esse fenômeno revela algo mais profundo: o vazio. Um inconsciente marcado pela falta, por traumas, por discursos internalizados desde a infância sobre o que é ser bonito, desejável, aceito. O corpo torna-se então o palco de uma batalha psíquica.

Não se trata de condenar a estética, mas de compreender seus limites. Qual o preço de parecer belo aos olhos dos outros e continuar sentindo-se feio aos olhos de si mesmo?

A verdadeira transformação começa quando olhamos para dentro. Quando enfrentamos nossas feridas, quando tratamos o sujeito e não apenas o invólucro.

A beleza mais poderosa não é a que impressiona, mas a que transmite verdade.
E essa, nenhum padrão pode impor.

Sandro César Roberto 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Amor vira Maldade

Sessenta Murros no Rosto: A Dor que o Silêncio Não Pode Mais Calar

Ela levou sessenta murros no rosto. Sessenta. Uma contagem que grita o horror, o desprezo pela vida e o descontrole brutal de quem deveria proteger — ou, no mínimo, respeitar. O que leva um homem a espancar uma mulher com tamanha fúria? O nome disso é tentativa de feminicídio, mas por trás do ato há mais: uma patologia mental, uma alma doente, possivelmente tomada por traços graves de transtornos de personalidade, como o transtorno antissocial ou narcisista em grau severo, combinados com um padrão psíquico destrutivo e misógino.

Ninguém que esteja em equilíbrio emocional, com mínima capacidade empática, é capaz de agir com tamanha violência. Sessenta socos não são um impulso. São um projeto. Um roteiro cruel de dominação, humilhação e aniquilação.

É preciso compreender que esse tipo de agressor não está apenas cometendo um crime — ele está perpetuando um ciclo. E esse ciclo precisa ser interrompido com ação do Estado, da Justiça e da Saúde Mental. A internação psiquiátrica pode ser necessária em casos extremos, mas jamais deve substituir o encarceramento. Quem tenta matar uma mulher não pode conviver em sociedade. Deve ser retirado dela, tanto para proteger outras vidas quanto para, quem sabe, iniciar um processo de responsabilização e tratamento — sim, tratamento, mas privado da liberdade, pois o direito à vida da vítima sempre virá em primeiro lugar.

Essa mulher sobreviveu. Mas quantas não conseguem? Quantas morrem em silêncio, em casa, nas mãos de parceiros adoecidos, possessivos e perigosos? A resposta está na coragem de romper o ciclo, na denúncia, no acolhimento psicológico às vítimas, na vigilância social e na punição proporcional e exemplar aos agressores.

Sessenta murros no rosto não são apenas lesões físicas. São gritos de uma sociedade que ainda falha em proteger suas mulheres. Que esse caso seja um alerta, uma revolta e um marco. Porque amar não dói. O que dói é o silêncio, a omissão e a impunidade.

Sandro César Roberto 

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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Fim da Instituição Famíliar


Sexo casual, leis injustas e o medo de amar: o colapso silencioso da masculinidade emocional

Vivemos a era do prazer instantâneo, onde o sexo casual se tornou comum, mas o compromisso virou raridade. Por trás disso, há um problema mais profundo: muitos homens estão deixando de acreditar no amor e na ideia de formar uma família. E não é apenas medo do sentimento, é medo do sistema.

Leis que obrigam o homem a pagar pensão por um filho que ele não gerou biologicamente — e, às vezes, nem mesmo sabia da existência — criam uma ferida silenciosa. Enquanto o pai biológico, em muitos casos, sequer é cobrado, um outro homem é responsabilizado simplesmente por ter passado pela vida da mãe. Há ainda quem use a criança como instrumento de vingança ou fonte de renda, alimentando um ciclo perverso onde verdade e justiça se separam.

O impacto psicológico é devastador. Muitos homens se sentem traídos, usados e punidos por amar ou confiar. Desenvolvem ansiedade, depressão, medo de relações afetivas, e acabam adotando comportamentos de distanciamento emocional. Tornam-se frios não por natureza, mas por autodefesa. Criam barreiras para o amor por temor das consequências jurídicas e morais.

Ao mesmo tempo, isso corrói as bases das relações humanas. As mulheres também sofrem — com homens cada vez mais ausentes emocionalmente, inseguros, e desconfiados. O afeto vira risco. O toque vira medo. E o compromisso, uma bomba-relógio.

O sexo casual virou válvula de escape, mas não resolve o vazio. Pelo contrário: aprofunda a sensação de solidão e reforça o ciclo da desconfiança. A masculinidade entra em colapso silencioso, e ninguém quer ouvir o grito abafado da injustiça emocional.

Não se trata de negar o direito das crianças, que sempre devem ser protegidas. Trata-se de repensar leis, atitudes e narrativas que ferem, ao invés de unir. Se a justiça continuar cega ao sofrimento emocional de quem é condenado injustamente, viveremos em uma sociedade cada vez mais incapaz de amar, confiar e construir.

Sandro César Roberto 

sábado, 19 de julho de 2025

Quando a Hipocrisia Afeta a Todos e Todas e Todes




Quando o discurso não encontra a prática, a máscara da incoerência cai.

Falou-se em igualdade de gênero, em proteção às mulheres, às crianças, às minorias. Falou-se muito sobre abuso, violência, estupro, traumas. Mas na hora mais crucial — o momento do voto, da posição clara, da responsabilidade pública — a deputada Érica Hilton vota contra o aumento das penas para estupradores, inclusive quando as vítimas são crianças.

Como aceitar que quem se diz defensora da dignidade humana, negue justiça às vítimas mais indefesas? Como justificar esse voto diante das mães que choram a dor do abuso de um filho, das mulheres que lutam para sobreviver aos próprios corpos violados?

Não se trata mais de ideologia. Trata-se de coerência moral.
Quem protege estuprador, trai a confiança do povo.
E, pior: silencia quem já sofreu demais.

Sandro César Roberto 

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Tudo tem seu tempo, será?


O Tempo, os Fracassos e o Futuro na Visão da Psicanálise

O tempo na psicanálise não é linear. Ele pulsa dentro de nós, em memórias, desejos e repetições. O que passou continua vivo, o presente é atravessado por marcas inconscientes, e o futuro é sempre uma construção psíquica permeada de expectativa e angústia.

Os fracassos, por sua vez, não são apenas quedas no percurso. Muitas vezes, são repetições de padrões inconscientes, sinais de conflitos internos não elaborados ou defesas contra o próprio desejo. A psicanálise nos ensina que o fracasso pode ser uma linguagem do inconsciente: quando o sujeito se sabota, pode estar obedecendo a mandatos invisíveis herdados da infância, da culpa, do medo de desejar.

Aquilo que não conseguimos realizar — os sonhos interrompidos, os caminhos não trilhados — também dizem de nós. Não são meramente ausências, mas testemunhos da nossa história emocional. Freud já afirmava que o sujeito não é senhor em sua própria casa: há forças internas que influenciam nossas escolhas, nossas perdas e nossos adiamentos.

Mas é justamente nesse ponto que se abre uma porta para o futuro. Ao dar voz ao inconsciente, ao interpretar os sintomas e reconhecer os padrões que se repetem, o sujeito pode reescrever sua trajetória. O futuro, então, deixa de ser uma repetição do passado e pode se tornar um espaço de criação, um campo de liberdade.

Fracassar não é o fim. É um chamado à escuta. Um convite para olhar o que não foi possível e perguntar: o que em mim ainda insiste em não me deixar ir adiante?

A psicanálise não promete felicidade plena, mas oferece algo mais profundo: a possibilidade de um encontro com o desejo verdadeiro. E quem encontra seu desejo, encontra também um novo tempo — um tempo onde o futuro não é temido, mas desejado.


sábado, 12 de julho de 2025

"O Politicamente Correto"


A Ilusão do “Seja Você Mesmo” na Luz da Psicanálise

Na lógica psicanalítica, o sujeito não é um ser pronto, transparente e autêntico o tempo todo. Pelo contrário — ele é atravessado por desejos inconscientes, por defesas, por máscaras que muitas vezes nem percebe usar.

No entanto, vivemos em uma era em que o imperativo do “seja você mesmo” ganhou força como se autenticidade fosse uma virtude absoluta. O problema é que essa autenticidade, muitas vezes, serve como defesa narcísica. Justifica grosserias, impulsos destrutivos e a ausência de empatia sob o pretexto de “eu sou assim mesmo”.

A Psicanálise nos ensina que o sujeito ético não é aquele que se entrega a todos os seus impulsos, mas sim aquele que consegue colocar limites ao seu gozo, que escuta o outro e que se responsabiliza por suas palavras e atos.

Dizer tudo o que se pensa, agir apenas com base no desejo imediato, sem considerar o impacto no outro, é mais um sintoma do ego inflado do que um sinal de liberdade. Ser você mesmo não pode ser um salvo-conduto para o desrespeito, nem um disfarce para a falta de elaboração psíquica.

Autenticidade sem elaboração é ato falho. É impulso. E o verdadeiro sujeito só emerge quando ele se pergunta: “O que o outro me causa? O que eu estou tentando evitar com essa ‘verdade’ que me protege?”

Sandro César Roberto 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

"Solidão e Abismo"

Entre a Solidão e o Abismo: Um Olhar Psicanalítico sobre o Adolescente que Matou a Família

Um jovem mata sua família. O horror toma conta das manchetes. Mas o que se esconde por trás de um ato tão brutal, cometido por alguém em plena adolescência? A psicanálise, mais do que buscar culpados imediatos, convida a olhar para o subterrâneo da alma humana, onde pulsões, traumas e desejos mal elaborados constroem narrativas silenciosas, às vezes fatais.

No caso em questão, o adolescente não agiu sozinho no sentido simbólico. Havia uma presença virtual feminina, uma moça com quem ele conversava e que, segundo relatos, acompanhou — e talvez tenha incentivado — os atos em tempo real. Aqui, o conceito de alienação subjetiva se torna central: o jovem, emocionalmente fragilizado, pode ter projetado nessa figura a única possibilidade de vínculo, de escuta e de afeto. Mas esse vínculo, ao invés de o salvar, o empurrou para o abismo.

Para a psicanálise, o adolescente está atravessando o que chamamos de crise da constituição do Eu, uma etapa em que o sujeito busca uma identidade, um pertencimento, uma posição no mundo. Se não há mediação parental adequada, escuta afetiva ou limites simbólicos, o jovem pode ser dominado pelo princípio do gozo, pelo acting out, pela necessidade de romper com tudo que o reprime — inclusive com a própria família.

O vínculo com a moça que o acompanhava online pode ser visto como uma forma de transferência distorcida, na qual ele deposita suas angústias, inseguranças e ideais. E ela, talvez por perversão ou fragilidade psíquica própria, o acolhe não para ajudá-lo a simbolizar, mas para reafirmar o desejo destrutivo que ali já germinava.

Esse episódio revela o quanto a tecnologia, sem filtro emocional e ético, pode se tornar terreno fértil para manipulações e delírios. Em tempos em que as relações se dão por telas e curtidas, muitos adolescentes, solitários e não ouvidos, constroem vínculos com figuras que ocupam o lugar de supostos "salvadores" — mas que, na verdade, alimentam seus fantasmas.

A psicanálise não justifica o crime, mas nos obriga a perguntar: onde estavam os laços, os limites e os afetos antes do rompimento? Que dor interna pulsava nesse jovem para que o gesto mais radical contra a origem de sua existência — a própria família — se tornasse possível?

A resposta, como sempre na psicanálise, não está no julgamento imediato, mas na escuta. Uma escuta que a sociedade, os adultos e o sistema muitas vezes falham em oferecer.

Sandro César Roberto 
Psicanalista 

quarta-feira, 9 de julho de 2025

"Quando as Máscaras Caem"

O Rosto Que Sorri e a Mão Que Fere: A Dualidade no Amor Segundo a Psicanálise"

Na superfície, ele ou ela é encantador(a), carismático(a), prestativo(a) e cativante — alguém que qualquer pessoa gostaria de ter por perto. Mas basta um desentendimento, um “não” ou qualquer atitude que frustre sua expectativa para surgir a face oculta: agressiva, manipuladora, controladora e, por vezes, violenta. Esse é o retrato psicanalítico da personalidade dual, onde o sujeito parece viver sob o domínio de duas forças internas distintas e contraditórias.

A psicanálise entende esse fenômeno como resultado de conflitos inconscientes não elaborados. Muitas vezes, essa divisão psíquica remonta à infância, marcada por traumas, rejeições, abusos ou abandono. A criança aprende a esconder a dor e a raiva sob uma máscara socialmente aceita — o "Eu Ideal" — ao mesmo tempo em que reprime sentimentos agressivos que, eventualmente, escapam sob formas de violência ou controle no ambiente íntimo.

Esse comportamento de duplicidade — de ser afável com o mundo e cruel com quem está mais próximo — é uma armadilha emocional. O parceiro ou parceira se vê preso em um ciclo confuso, onde a esperança de reencontrar o lado "bom" da pessoa o(a) impede de perceber o perigo real representado pela face sombria. Essa oscilação constante entre afeto e dor instala, muitas vezes, um vínculo perverso e altamente destrutivo, semelhante à chamada Síndrome de Estocolmo emocional.

As consequências são sérias. A vítima pode desenvolver ansiedade crônica, depressão, baixa autoestima, culpa excessiva, medo constante e até transtornos psíquicos mais profundos. Em casos mais graves, essa dualidade não tratada pode escalar para agressões físicas, psicológicas e até o feminicídio ou suicídio.

Do ponto de vista psicanalítico, é essencial compreender que o sujeito que vive essa cisão interna está em sofrimento, embora isso nunca justifique o sofrimento que causa ao outro. Sem tratamento, essa estrutura tende a se repetir em ciclos, relações e gerações. O narcisismo, o recalque da agressividade e a dificuldade de simbolizar a dor interna são combustíveis dessa dualidade.

Sandro César Roberto 

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Sua culpa,minha virtude!


O Equívoco Sobre a Empatia e a Ignorância de Julgar

Vivemos tempos em que a empatia é confundida com fraqueza, e a preocupação com o outro é vista como perda de tempo. A humanidade, em sua pressa e superficialidade, se tornou especialista em julgar sem compreender, em apontar sem olhar para dentro.

Muitos acreditam que demonstrar sensibilidade é sinal de fragilidade. No entanto, é exatamente o contrário: ser empático exige coragem. Coragem para se colocar no lugar do outro, para sentir a dor alheia, para ouvir sem julgar. É mais fácil zombar do que acolher, mais cômodo criticar do que estender a mão.

Outro grande erro humano é justificar os comportamentos destrutivos dos outros pela “falta de inteligência”. Como se a inteligência fosse a única medida de valor, como se ela absolvesse a maldade, a crueldade, o egoísmo. Esquecem que muitos atos ruins não vêm da ignorância, mas da escolha consciente de ser indiferente, de manter-se cego ao sofrimento alheio.

E assim seguimos, uma sociedade que tapa os olhos para seus próprios defeitos, mas nunca deixa de apontar os dos outros. Uma humanidade que precisa, urgentemente, reaprender a olhar para o próprio umbigo antes de sentenciar o próximo.

Empatia não é fraqueza. É força. Preocupação com o outro não é perda de tempo. É humanidade. E julgar sem autocrítica... isso sim, é o verdadeiro sinal de ignorância.

Sandro César Roberto 

terça-feira, 24 de junho de 2025

Morte na Trilha

Juliana Marins: uma vida interrompida e a montanha que calou o Brasil

Juliana Marins era mais do que uma turista brasileira em busca de aventura. Ela era filha, amiga, mulher sonhadora, alguém que atravessava o mundo com brilho nos olhos e coragem no coração. No entanto, o destino a levou até as encostas de um vulcão — e de lá, ela não voltou viva.

Caiu em um dos abismos mais cruéis da natureza, mas não foi a fúria da montanha o maior obstáculo. Foi a negligência humana. O tempo corria, e cada minuto poderia ser decisivo. Mas a resposta das autoridades locais foi lenta, burocrática, ineficiente. Em tempos em que drones cruzam os céus e satélites monitoram cada passo da Terra, a ausência de recursos tecnológicos, de protocolos de emergência eficazes e de uma resposta à altura da vida humana foi um golpe tão duro quanto o acidente em si.

O guia — aquele que deveria zelar pela segurança, orientar, proteger — mostrou-se despreparado, talvez até irresponsável. Erros humanos somados à falta de fiscalização e preparo transformaram uma aventura em tragédia.

E enquanto o poder público titubeava, foram os alpinistas voluntários — homens e mulheres de coragem silenciosa — que mostraram ao mundo o verdadeiro valor da empatia. Sem amparo, com poucos recursos, enfrentaram o frio, o risco, o desespero. Foram eles que desceram, vasculharam, desafiaram as pedras e a fumaça do vulcão em busca de Juliana. E embora a tenham encontrado já sem vida, foram eles que a trouxeram de volta. Foram eles que não permitiram que ela ficasse sozinha nas profundezas da terra.

O Brasil chora Juliana. Chora não só por sua morte trágica, mas pela sensação de impotência. Pela falta de preparo. Pelo abandono. E ao mesmo tempo, aplaude de pé os heróis sem farda, que não buscaram glória nem aplausos — apenas humanidade.

Que a história de Juliana Marins não seja enterrada com ela. Que sirva de alerta, de clamor por mudança. Para que nenhuma outra vida seja interrompida por causa da inoperância, do descaso e da ausência de ação quando o tempo é tudo o que se tem.

Juliana agora descansa. Mas sua história precisa continuar viva.

Sandro César Roberto 


segunda-feira, 23 de junho de 2025

Pessoa Ruin ou Boa


Como Reconhecer uma Pessoa Má em 5 Minutos, Segundo a Psicologia (Com um Importante Alerta: Ninguém é Perfeito)

A psicologia não define “pessoa má” de forma absoluta, mas aponta traços comportamentais que podem indicar uma tendência à manipulação, crueldade emocional ou ausência de empatia. É importante lembrar que todos nós temos falhas, momentos difíceis e contradições. Porém, observar certos sinais pode nos ajudar a nos proteger de relações tóxicas e prejudiciais.

1. Falta de empatia imediata
Pessoas com pouca ou nenhuma empatia costumam não reagir com sensibilidade diante de uma dor alheia. Faça um comentário sobre algo difícil (uma perda, uma injustiça, uma situação vulnerável). Se a pessoa responder com indiferença, sarcasmo ou desdém, esse pode ser um sinal de frieza emocional ou até traços narcisistas.

2. Disfarces de superioridade
Em uma conversa rápida, pessoas com traços tóxicos frequentemente tentam se colocar acima dos outros: seja rebaixando alguém que não está presente, se vangloriando exageradamente ou tentando parecer intelectualmente superior. Isso pode indicar necessidade de controle e ego inflado.

3. Sorrisos falsos e olhar desconectado
Estudos apontam que pessoas manipuladoras usam o sorriso como estratégia social, mas o sorriso não se reflete nos olhos. Observe se o olhar parece “vazio”, desconectado ou forçado. O corpo muitas vezes revela o que a fala tenta esconder.

4. Foco nos próprios interesses
Quando a conversa gira em torno da outra pessoa, e ela não demonstra interesse genuíno pelo que você diz, muda de assunto bruscamente ou volta o foco para si, isso pode sinalizar traços egoístas e egocêntricos — características comuns em pessoas manipuladoras.

5. Microagressões e ironias disfarçadas
Pessoas com más intenções tendem a fazer comentários sutis que desvalorizam o outro: piadas cruéis, ironias sobre a aparência ou inteligência, tudo com um sorriso cínico ou frase como “tô brincando, você é muito sensível”. Essa é uma forma de dominação silenciosa.


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Um Aviso Importante

Ninguém é perfeito. Todos temos momentos ruins e podemos errar em palavras ou atitudes. A diferença está na intenção, na frequência e na ausência de arrependimento. O olhar da psicologia nos ajuda a desenvolver filtros — não para julgar, mas para nos proteger.

Sandro César Roberto 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Pedófilia Médica


CUIDADO E VIGILÂNCIA: A PROTEÇÃO INFANTIL DEVE SER CONSTANTE

A infância é uma fase de descobertas, vulnerabilidades e confiança. Nela, a criança confia plenamente nos adultos — pais, professores, profissionais da saúde — esperando acolhimento, segurança e cuidado. Justamente por essa entrega inocente, é fundamental que nós, como sociedade, pais e responsáveis, exerçamos vigilância constante, mesmo em ambientes que, a princípio, inspiram confiança, como consultórios médicos, visitas domiciliares e atendimentos especializados.

Infelizmente, casos como os que envolvem abusos sexuais por parte de figuras públicas ou profissionais de saúde revelam a necessidade de um olhar mais atento e firme. A autoridade e o prestígio social de tais pessoas muitas vezes fazem com que suspeitas sejam ignoradas ou que as vítimas sintam vergonha ou medo de falar.

A VISÃO PSICOLÓGICA DOS TRAUMAS

O abuso sexual na infância é uma das experiências mais devastadoras para o desenvolvimento emocional e psíquico de uma criança. Quando isso ocorre, especialmente vindo de alguém em quem se confiava, instala-se um trauma profundo que pode perdurar por toda a vida.

Na visão psicológica, o impacto pode se manifestar de várias formas:

Ansiedade e depressão;

Dificuldades de relacionamento e confiança;

Transtornos de identidade e autoestima;

Automutilação, comportamento autodestrutivo ou isolamento social;

Culpa e vergonha injustificadas;

Problemas escolares e de aprendizado.


O cérebro infantil, ainda em formação, interpreta o abuso como uma violação de tudo o que é seguro. Isso pode gerar bloqueios emocionais severos e dificuldades em reconhecer limites e construir vínculos saudáveis no futuro.

A IMPORTÂNCIA DA ESCUTA E DO ACOLHIMENTO

Crianças devem ser constantemente orientadas sobre seus corpos, sobre o que é certo ou errado, e principalmente incentivadas a falar. O acolhimento sem julgamentos é a chave para que elas sintam segurança em relatar qualquer desconforto. Uma escuta atenta e sem imposições pode salvar uma vida.

PROTEÇÃO COMEÇA EM CASA, MAS DEVE SE ESTENDER POR TODA A REDE DE APOIO

Os pais devem estar presentes nas consultas médicas, observar mudanças de comportamento e manter um diálogo aberto com seus filhos. Mas essa responsabilidade também deve ser compartilhada com escolas, conselhos tutelares, instituições de saúde e toda a sociedade.

O abuso sexual é um crime cruel que destrói vidas em silêncio. Prevenir é dever de todos nós. A vigilância não é exagero — é amor em forma de proteção.

Sandro César Roberto 
Psicanalista/ psicólogo 


Rambos do Brasil

Rambo, a Dor Invisível e os “Rambos” da Vida Real no Brasil O início de Rambo: Programado para Matar nunca foi sobre explosões o...